Sente-te feliz sozinho?
Estar só pode ser ou não um problema. Diferente do sentimento de solidão, a “solitude” é uma capacidade para estar bem, mesmo estando sozinho. Segundo o psicólogo Winnicott (1957), importante nome no estudo sobre vinculação, esta capacidade desenvolve-se na infância, com influência da relação existente entre as pessoas responsáveis por oferecer afeto e cuidado e a própria criança, ao longo do seu crescimento.
Essa segurança em estar só é uma capacidade importante para o amadurecimento da pessoa. Os jovens que, ao ingressarem no Ensino Superior, defrontam-se com a oportunidade de sair da casa dos pais e morarem sozinhos ou com colegas da mesma idade, podem experimentar sentimentos positivos, relacionados com a construção da autonomia e da manutenção do equilíbrio psicológico.
Neste processo, um relacionamento hierárquico e de complementaridade, propiciador de crescimento, segurança e afeto, entre pais e criança, vai transformando durante a adolescência para um relacionamento de reciprocidade, confiança e autonomia. O adolescente volta seu afeto e admiração ao grupo de colegas, no qual também buscará formar relacionamentos de maior intimidade, seja de amizade, seja de amor romântico.
Quando o jovem não é seguro internamente, não será a ausência de pessoas ao seu lado o principal fator a considerar nos sentimentos de solidão
Portanto, estar só e estar bem consigo mesmo e com os outros, conseguir desenvolver e manter relações de intimidade sem perder a sua autonomia ou identidade é sadio e sinal de maturidade psicológica.
A solidão, por outro lado, gera sentimentos de exclusão, isolamento e tristeza, e a necessidade de aumentar a sua rede social de apoio. Alguns jovens, mesmo tendo um bom número de amigos, sente ainda solidão pela ausência de uma relação íntima, que emocionalmente os façam sentir aceites, seguros, compreendidos e protegidos.
Quando o jovem não é seguro internamente, não será a ausência de pessoas ao seu lado o principal fator a considerar nos sentimentos de solidão, mas a desvinculação emocional entre ele e as pessoas em sua volta e o sentimento de incapacidade em a satisfazer necessidade de pertença.
Nestes casos, os jovens que sentem forte solidão podem também experimentar emoções negativas como timidez, insegurança, ansiedade social, e problemas como doenças psicossomáticas, suicídio, consumo de álcool, agressão e insucesso acadêmico.
A psicoterapia é importante recurso para superação desses sentimentos e sintomas, proporcionando, em um espaço seguro e acolhedor, que o jovem experimente entrar em contato com seus medos e necessidades, reconhecendo recursos internos, fortalecendo sua identidade, autoestima e autonomia. Na psicoterapia poderá ressignificar suas experiências, refletir sobre como atua nos relacionamentos, e experimentar novas atitudes, sendo respeitado e aceito em seu ritmo e escolhas.
Texto adaptado de
Bastos, M., & Costa, M. (2005). A influência da vinculação nos sentimentos de solidão nos jovens universitários: implicações para a intervenção psicológica. Psicologia, XVIII (2) pp. 33-56, Edições Colibri, Lisboa.