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Distúrbios alimentares


Comer não é apenas um ato de repor a energia e nutrientes dos quais o nosso corpo precisa, pelo menos não para a nossa espécie. A alimentação é ligada ao afeto, às regras familiares, aos eventos e estatuto sociais. Quantos de nós temos ultimamente publicado fotos das refeições que fazemos, seja em casa ou nos restaurantes e cafés?

A estética, a característica que nos associa a determinados grupos (ex: veganos, fit ,...), o status pelo valor que se paga em determinado estabelecimento, o compartilhar a comida que preparou, a acessibilidade às receitas e os milhares de novos empreendimentos informais nesta área são algumas das motivações para comermos mais do que alimentos. Comemos também aceitação social.

Paradoxalmente a todo o apelo por comer, comer e comer, a insatisfação com a forma do corpo, o medo de engordar, a ansiedade por emagrecer, o desejo de fazer cirurgias estéticas e a distorção da imagem corporal têm sido cada vez mais presente nos discursos dos meus clientes. A maioria são jovens e estudantes brasileiros que vieram estudar em Portugal.

A necessidade de aceitação pelo grupo, de estar dentro dos padrões de beleza e de sucesso que a nossa sociedade vem impondo há décadas, são fatores de influência nesta fase onde a identidade psicológica e social está se construindo. Pensar que se está em desacordo com os padrões culturalmente impostos, que precisa exercitar-se mais, fazer alguma dieta mais radical ou outra estratégia compensatória para chegar ao corpo satisfatório é muito comum nos jovens, principalmente entre mulheres. Não pensem que isto é natural da mulher, é um comportamento aprendido.

Caso os pensamentos e comportamentos que levem ao emagrecimento passem a ser muito mais frequentes e intensos, causando sofrimento emocional, interferindo na vida diária e na sua saúde, passou a ser algo mais preocupante. Os distúrbios alimentares, com ênfase para a anorexia e a bulimia, são perigosos para a vida do doente. A taxa de mortalidade na anorexia nervosa oscila entre 5 a 20%, seja pelos efeitos da restrição alimentar, como por inanição, desequilíbrio eletrolítico e desidratação, seja pelos efeitos emocionais, como o suicídio.

Daí a importância de todo e qualquer movimento de contracultura que fomente debates e reflexão crítica quanto ao consumismo, aos padrões de beleza e de sucesso impostos socialmente. O grande aumento da incidência desses transtornos (anorexia, bulimia, compulsão alimentar) é multifatorial, e, dentre estes fatores, a influência sociocultural é um dos principais.

Referências:

Padrão, M. J. (2016). Anorexia nervosa: da fenomenologia do corpo à libertação. Simplesmente.

Marques, A. G. (2007). Comportamentos e distúrbios alimentares. Coimbra: Formasau.


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